A vida na utopia da IA

Como podemos florecer no mundo real

Nicholas Arand

5/2/20244 min read

Acho que uma das razões pelo meu gosto pelo mundo da Inteligência Artificial vem do fascínio que meu pai tinha pela literatura de ficção científica. Sou muito diferente dele mas, de um jeito ou de outro, fui muito influenciado pelos diferentes livros e histórias com os quais eu tive bastante contato em minha infância e juventude. Sempre tinha algo de Arthur Clarke e Isaac Asimov em minha cabeceira.

Depois, é claro, vieram os filmes. Alguns de ação, mais gráficos e menos filosóficos, outros nem tanto, porém todos com algo em comum. Uma ou outra cena, um ou outro diálogo, extremamente inspirador e impactante. O que gosto de consumir, mas confesso chamar de filosofia fast-food. Não é ruim, apenas vem com altíssimo valor glicêmico e baixo valor nutritivo. Isso, claro, se comparado à filosofia, digamos, orgânica e natural. Mas adoro.

Hoje, lendo um artigo na seção the future, do site BigThink.com (Philosopher Nick Bostrom’s predictions on life in an AI utopia: how humans might find fulfillment in a post-scarcity world), passou por meus olhos um trecho fenomenal do filme The Matrix, das irmãs Wachowski (as incríveis irmãs Wachowski) que ilustra um desses momentos impactantes que acabo de descrever. O artigo traz a proposta extremamente otimista do citado filósofo que acredita que, com os avanços tecnológicos, logo viveremos em um mundo utópico onde reinará a paz global, uma vez que não sofreremos mais do problema de escassez de recursos, a origem de todo o mal e de todos os conflitos da humanidade. Como contra argumento a esta ideia, o artigo traz a proposta de que a humanidade não seria capaz de se adaptar a esta utopia, pois evoluiu adaptando-se ao meio onde todos os seres vivos, sem exceção, lutam diariamente pela sobrevivência e sucesso reprodutivo, em um mundo com recursos escassos e predadores por toda a parte.

É neste momento em que vem a citação a um de meus filmes de ficção científica favoritos. O filme The Matrix imagina o mundo como uma simulação indetectável. Estamos o tempo todo mantidos em um sonho controlado, conectados a uma realidade virtual que pensamos ser real, mas na verdade é a estimulação sensorial usada pelas máquinas que dominam nosso mundo e usam nossos corpos como fonte de energia. Em The Matrix, um representante dos robôs, o Agente Smith, diz: “Você sabia que a primeira Matrix foi projetada para ser um mundo humano perfeito? Onde ninguém sofreria, onde todos seriam felizes. Foi um desastre. Ninguém aceitava o programa… Eu acredito que, como espécie, os seres humanos definem sua realidade através do sofrimento e da miséria. O mundo perfeito era um sonho do qual o seu primitivo cérebro sempre tentava acordar.”

Será?

Confesso que, acompanhando o noticiário, tendo a acreditar que sim. Não sei se em algum momento da história humana nos deparamos com algo próximo a esta utopia por tempo suficiente para estudar seus possíveis impactos em nossa psique primitiva. Toda história, de ficção ou não, é, quase que por definição, dramática. A humanidade adora um drama e, talvez, o drama seja a nossa sina. Do Gênesis ao Apocalipse, simbolicamente, é claro, parece que estamos destinados a enredos de mentiras, medos, egoísmo, guerras, genocídios e muito, muito sofrimento.

Mas segundo Nick Bostrom isso pode mudar. Ele acredita que os saltos de inovação que daremos nas próximas décadas podem nos levar, pela primeira vez na história natural, à verdadeira utopia: um mundo onde nada faltará a ninguém. Nada. Desde acesso a educação, conhecimento, conforto físico e psicológico, a alimentação, liberdade, segurança e entretenimento enriquecedor. Enfim, a Utopia.

Eu, particularmente, talvez até pelo meu gosto pela ficção científica, adoro flertar com a utopia, assim como adoro citar Eduardo Galeano:

Isso não é IA: - Norwegian-Coast-by-Tomasz-Furmanek

“A utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar.”

Mas também gosto de manter os pés no chão e encontrar também as pequenas “utopias” possíveis. Aquelas que podemos alcançar todos os dias. Esqueçamos um pouco o drama Shakespeariano, as grandes paixões, ilusões, sonhos e ambições. Esqueçamos os épicos homéricos de Akira Kurosawa, Martin Scorsese e Sergio Leona e pensemos nos curtas do dia a dia ou em frases isoladas de Gabriel Garcia Marques.


Quais são os nossos sofrimentos do dia a dia? Aposto que para a grande maioria de nós não é desconforto, dor ou limitação. Nem mesmo é algum tipo de momento melancólico, trágico, dramático que tem maior significado ou causa um despertar espiritual. São apenas dores de cabeça chatas, ou se sentir meio insatisfeito nas oito horas que tem que passar no trabalho todos os dias, o tipo de rotina da vida cotidiana. Esse tipo de miséria não é teatral, mas é irritante pra caramba, e a maioria das pessoas seria mais feliz sem isso, e isso podemos resolver.

Não sou seu médico nem seu psicólogo. Sou apenas seu consultor de IA. Vamos identificar aquelas tarefas chatas de seu dia a dia. As que não agregam valor, não te estimulam intelectualmente, apenas te causam atrasos em suas entregas e, portanto, tensão desnecessária em seu dia a dia. Vamos olhar para elas e dar-nos conta que, além de serem as tarefas que você menos gosta de fazer, são as que mais causam sofrimento. O mais importante é que, não por coincidência, são, certamente, as tarefas mais “automatizáveis” com o uso da tecnologia.


Quer ajuda para caminhar? Me chame.